Sexta-Feira, 29 de Marco de 2024
Casa do povo; praça de guerra

As sedes do Poder Legislativo espalhados pelo planeta são conhecidas como casa do povo. Se existem espaços onde a vontade da sociedade deve ser expressada sem nenhuma restrição, esse é o mais sagrado deles. Ontem, todavia, agentes da GCM (Guarda Civil Municipal) de Diadema, em plena Câmara, usurparam esse direito da população ao reagir com truculência às manifestações de quem era contrário à aprovação de projeto de lei que privatiza a gestão da Saúde pública. Virou praça de guerra.

O uso de gás de pimenta para conter os cidadãos é, sob todos os pontos de vista, extremamente condenável. Quem acompanhava a tensa sessão da Câmara tinha a noção exata de que a barreira de isolamento feita pelos guardas-civis, munidos de escudos, seria suficiente para frear o ímpeto dos frequentadores, inclusive dos mais exaltados. O bom-senso, todavia, foi deixado de lado.

Contrariando regulamentação internacional sobre utilização da arma, os agentes da GCM atiraram gás de pimenta no ambiente fechado da Câmara de Diadema, onde cerca de 400 pessoas acompanhavam os trabalhos legislativos. Pura irresponsabilidade. Produzido com capsaicina, o spray causa queimadura na pele e na retina e deve ser utilizado apenas em locais abertos e a distância segura do alvo, bem diferente do registrado em Diadema.

Embora entidade norte-americana de proteção aos direitos civis já tenha documentado mais de 40 casos de mortes causadas pelo uso incorreto de gás de pimenta, os guardas-civis diademenses recorreram a ele sem nenhum pudor para tentar manter a ordem no Legislativo. A medida, como se pode constatar em reportagem que ocupa página inteira na seção de Política deste Diário, foi totalmente contraproducente. O comandante da GCM precisa ser instado, pelo prefeito Lauro Michels (PV) ou pela Promotoria, a prestar contas da barbaridade cometida contra a população. O diálogo não pode ser substituído pela barbárie.


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